Artigos «O Dōjinkai e o Hospital Japonês.»

O Dōjinkai e o Hospital Japonês.

Nas colônias japonesas, eram freqüentes as epidemias de doenças infecto-contagiosas, como a malária, a ancilostomose, o tracoma, a amebíase e a tuberculose. Embora as colônias administradas pela C.ia de Desenvolvimento Internacional e pela Sociedade Colonizadora do Brasil contassem com médicos japoneses, a maioria não dispunha de um cirurgião sequer.

Já eram poucos os médicos que atuavam no estado de São Paulo durante o período pré-guerra. Cobravam-se valores inimagináveis por uma simples visita médica. Muitos japoneses nunca iam ao médico — e, mesmo que fossem, se o médico fosse brasileiro, haveria ainda a barreira da linguagem, e o imigrante poderia não receber o tratamento adequado. Dessarte, muitas vidas que poderiam ter sido poupadas terminaram em vão. A oferta de médicos japoneses era um desejo mais do que emergente para os imigrantes.

A fundação do Dōjinkai.

Com o aumento expressivo no número de emigrantes no fim da era Taishō (1912-1926), a falta de médicos começou a preocupar o governo japonês. Nas regiões mais ermas, onde não havia médico, fazia-se silêncio; como, no entanto, era proibido exercer a medicina sem a autorização do governo brasileiro, o governo japonês enviou à Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro quatro estudantes a fim de obter permissão para clinicar no Brasil em 1923. Também foram liberados 36 mil ienes a fim de garantir a higiene dos imigrantes. Essa quantia foi utilizada pelo Consulado Geral do Japão em São Paulo para a criação do Dōjinkai, entidade responsável pela saúde e pelo bem-estar dos imigrantes japoneses no Brasil. Os japoneses que viviam em São Paulo já planejavam, desde antes, a construção de um hospital japonês, e a criação do Dōjinkai também deveria prestar-se a esse objetivo.

Como, porém, a criação do Dōjinkai resultara do acordo entre as lideranças da comunidade japonesa da cidade de São Paulo, muitos pioneiros região noroeste de São Paulo, como Shūhei Uetsuka e Teijirō Suzuki opuseram-se a ela, dando início a um movimento pela criação de um hospital na região noroeste. O movimento foi interrompido com o advento de uma grande seca em 1927 e decidiu-se, enfim, construir o hospital na cidade de São Paulo.

O movimento pela construção do Hospital Japonês.

O Dōjinkai também foi responsável pelos esforços na melhoria das condições sanitárias no interior do estado, abrindo novos postos de saúde em Bauru e Lins, em agosto de 1930, e em Santos e Presidente Prudente, em julho de 1932; além disso, caravanas médicas também passaram a circular pelo estado.

Desde 1926, já era certo o local de construção do novo hospital: seria na Vila Mariana (cidade de São Paulo). O plano, entretanto, estagnou. Quando, em 1931, Iwatarō Uchiyama (governador da província de Kanagawa entre 1947-67) assumiu o Consulado Geral do Japão em São Paulo, foi criada a Aliança para a Construção do Hospital Japonês de São Paulo, responsável pela coleta de donativos, ensejando uma mobilização para que as obras fossem iniciadas efetivamente.

Em 1934, a Casa Imperial fez uma doação no valor de 50 mil ienes para a construção do hospital e, em 1935, foi criado o Comitê de Construção do Hospital Japonês de São Paulo. Decidiu-se que os custos da construção do hospital (equivalentes a 800 mil ienes) seriam divididos entre os subsídios oferecidos pelo governo japonês (250 mil ienes), os donativos obtidos no Japão (400 mil ienes) e os donativos obtidos entre os japoneses no Brasil (100 mil ienes). Com isso, foi criada em 1935, no Japão, o Comitê de Apoio à Construção do Hospital Japonês “São Paulo” (presidido pelo ex-primeiro-ministro Minoru Saitō), que tinha como objetivo a arrecadação de mais donativos para a construção do hospital.

A inauguração do Hospital Japonês.

O prédio do hospital começou a ser construído em agosto de 1936, sendo finalizado em abril de 1939. As atividades tiveram início logo em seguida. Os custos com a construção do hospital chegaram a 4.979 contos de réis (cerca de 100 mil ienes). Oficialmente, a instituição ostentava o nome “Sociedade Brasileira e Japonesa de Beneficência Santa Cruz”. O prédio ocupava uma área de 1.460 m2, com 5 andares e um subsolo, 76 apartamentos e 200 leitos, sendo o maior edifício da comunidade nipo-brasileira durante o período pré-guerra.

Em 1942, com a eclosão da Guerra do Pacífico e o fim das relações diplomáticas nipo-brasileiras, o hospital foi considerado posse de alienígenas hostis, sendo vetado aos japoneses exercer a sua administração. Durante muito tempo, a administração do hospital esteve restrita a indivíduos não-japoneses; porém, graças ao esforço da comunidade nipo-brasileira, o hospital retornou para as mãos de japoneses em fevereiro de 1990.