Capítulo 4 - A emigração vista como solução para as questões internas. (3)

O Centro de Pesquisas Agronômicas da Amazônia.

A concessão de terras feita a Yamanishi e Awazu.

Em 11 de março de 1927, Genzaburō Yamanishi, um jovem empresário de Tōkyō, e Kinroku Awazu, que emigrara para o Brasil em 1914 e vivia no Rio de Janeiro, à época, assinaram um contrato de concessão de terras com o governo do estado do Amazonas, recebendo 1 milhão de hectares e submetendo-se às cláusulas que seguem:

  1. Yamanishi e os demais interessados deviam escolher um lote de 1 milhão de hectares situado no estado do Amazonas dentro de um prazo de dois anos, devendo assumir a responsabilidade por todas as despesas necessárias;
  2. uma vez escolhidas as terras, os interessados deveriam constituir uma empresa no local;
  3. essa mesma empresa deveria assinar um contrato com o governo do estado, construir no local uma colônia japonesa e introduzir, sem cessar, o número mínimo de 10 mil famílias japonesas num prazo de cinqüenta anos.

Yamanishi retornou prontamente ao Japão, esperando captar os recursos necessários para a conclusão do projeto, mas, devido à situação de crise em que o país se encontrava, não foi possível reunir o capital desejado.

A fundação do Centro de Pesquisas Agronômicas da Amazônia.

Yamanishi e os demais interessados transferiram para Awazu e para o deputado Tsukasa Uetsuka (primo mais jovem de Shūhei Uetsuka), natural de Kumamoto e ex-colega de escola de Awazu na Escola Superior de Comércio de Kōbe, os direitos sobre o contrato. Uetsuka enviou à região duas equipes de reconhecimento (uma em 1928 e outra em 1930, sendo esta última financiada com subsídios fornecidos pelo governo e tendo à frente Uetsuka como chefe da equipe) e, assim, foi feita a escolha das terras. Depois de feita a escolha, Uetsuka adquiriu, para fins particulares, um lote de terras a 2 milhas ao sul da cidade de Parintins e batizou-o “Vila Amazônia”, fundando ali, em 1932, o Centro de Pesquisas Agronômicas da Amazônia (a entidade tornou-se pessoa jurídica em fevereiro de 1933), onde eram realizados experimentos agronômicos e previsões meteorológicas e que contava com um ambulatório e um centro de treinamento para os interessados.

A Escola Superior de Colonização.

Em abril de 1930, Uetsuka fundou no Kokushikan, em Tōkyō, a Escola Superior de Colonização (“Kōtaku”), voltada para a formação de novos guias para a exploração da Amazônia. Somente indivíduos que já houvessem concluído o antigo ensino médio poderiam cursar a escola, de sorte que somente os filhos das famílias mais abastadas a freqüentavam. Em abril de 1931, 47 calouros da escola (incluindo-se os dois líderes do grupo) foram enviados para a Amazônia, chegando à Vila Amazônia cerca de dois meses mais tarde. Lá, os estudantes foram absorvidos pelo centro de treinamento mantido pelo Centro de Pesquisas, onde deveriam permanecer por um ano.

Em junho de 1932, Uetsuka rompeu os laços com o Kokushikan, que à época ocupava-se com a expansão militar na Manchúria, rebatizando a escola como Escola Superior de Colonização do Japão e transferindo as instalações para Noborito, na província de Kanagawa. A Escola Superior de Colonização continuou enviando os seus alunos para a Amazônia até a formatura da 7.ª turma, em 1937.

O cultivo de juta e o sucesso na obtenção da fibra em larga escala.

Em janeiro de 1933, após o desligamento de Kinroku Awazu do Centro de Pesquisas, ocorrido em fins do ano anterior, Uetsuka enviou Kotarō Tsuji, também formado pela Escola Superior de Comércio de Kōbe, para preencher o vazio deixado por Awazu no Centro; Tsuji ocupou o cargo em abril.

Logo após assumir o cargo, Tsuji deu início às buscas por terras apropriadas para o cultivo de juta, uma espécie considerada promissora que Tsuji imaginava transformar no principal produto da região. Em junho, teve início a construção de uma nova colônia na região de Ângela. As sementes de juta, que Tsuji havia contrabandeado da Índia, foram rapidamente semeadas, mas a empreitada revelou-se um grande fracasso. Em dezembro de 1933, Ryōta Oyama, fabricante de tecidos a partir de (...) em Okayama, cujo pai (membro da segunda turma da Escola Superior de Colonização) emigrara para a Amazônia a pedido de Uetsuka, conseguiu obter nas baixadas da ilha Formosa, não muito distante da colônia, dois exemplares de uma variedade de juta excepcionalmente comprida. De um dos exemplares, foram retiradas as sementes e produziu-se a fibra, que revelou ser de qualidade excepcional.

Com isso, foi possível, utilizando as sementes obtidas na ilha Formosa, produzir juta em escala comercial. O primeiro carregamento de juta (60 sacas = 2.770 kg) foi despachado em abril de 1937. A juta utilizada na confecção de sacos para embalar o café a ser exportado, que até então precisava ser importada da Índia, passou a ser produzida no próprio Brasil, fato que causou espanto ao ser divulgado como uma conquista dos imigrantes japoneses nos jornais brasileiros da época. Quando, em 9 de outubro de 1940, Getúlio Vargas esteve na Amazônia, Tsuji e Uetsuka puderam avistar-se pessoalmente com o presidente.

A criação da Sociedade Produtora da Amazônia.

Até o presente momento, nenhuma companhia fora criada nos liames do sistema de concessão; porém, em 17 de setembro de 1935, os representantes da C.ia Oriental de Exploração e dos grandes complexos Mitsui, Mitsubishi, Sumitomo e Yasuda reuniram-se na residência oficial do ministro das relações exteriores para um banquete, onde ficou decidida a criação da Sociedade Produtora da Amazônia (fundada oficialmente no dia 23 de setembro, tendo à frente Tsukasa Uetsuka como presidente). As atividades que até então eram executadas pelo Centro de Pesquisas Agronômicas da Amazônia foram repassadas à nova empresa, tendo sido reiniciadas em fevereiro de 1936 com a criação de uma empresa representante no Brasil (pessoa jurídica).

Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, o Centro de Pesquisas da Amazônia, sendo um empreendimento administrado por um país inimigo, foi desapropriado pelo governo brasileiro. Os membros executivos da instituição e suas famílias, que não estavam envolvidos no plantio de juta, foram confinados em Tomé-Açu depois de serem declarados alienígenas hostis.

O problema da educação dos nisseis.

A educação nas escolas japonesas do interior.

A principal preocupação dos japoneses, que haviam emigrado esperando reunir uma quantidade razoável de dinheiro e retornarem ao país de origem “cobertos de glória”, era ensinar o mínimo necessário do idioma japonês aos seus filhos, de modo a não surgirem grandes problemas quando a família retornasse ao Japão. Por conta disso, em cada assentamento construído pelos japoneses, uma escola primária era prontamente construída. Em 1926, o número de escolas japonesas no país era de 61 unidades; esse número subiu para 122 em 1931 e, em 1939, as escolas já somavam 486 unidades no total.

Contudo, ensinar não somente a ler e a escrever em japonês, mas também o chamado “espírito japonês” aos nisseis e aos quasi-nisseis (pessoas que haviam emigrado ainda em tenra idade) nos ermos mais distantes do estado de São Paulo, região totalmente diferente do Japão, era uma tarefa difícil. A isso, acresce-se o fato de que, para poderem sobreviver, os pais não podiam dispensar muita atenção à educação dos filhos; muitas crianças eram empregadas nos trabalhos domésticos, não restando tempo para se dedicarem aos estudos.

Ao mesmo tempo, manter na escola primária um professor no qual se pudesse confiar era uma constante dor de cabeça para os imigrantes. Somente as famílias mais abastadas podiam se dar o luxo de manter um filho num alojamento para estudantes na cidade de São Paulo.

Órgãos orientadores do ensino.

Em março de 1927, cerca de 60 pessoas vinculadas ao ensino em várias partes do estado de São Paulo foram convocadas pelo então cônsul-geral Sukeyuki Akamatsu para a realização do Congresso sobre a Educação Infantil no Estado de São Paulo, com duração de três dias, a fim de obter progressos na difusão do conhecimento no estado. Durante o congresso, foram discutidos temas como a construção de uma rede de solidariedade entre as escolas, a unificação de diretrizes na educação das crianças e jovens japoneses, o caráter do educador, o aumento no salário dos professores, a realização de palestras e seminários sobre educação, a reformulação dos livros-texto usados em sala de aula, melhorias nas instalações das escolas e a compra em conjunto de material escolar. Como, porém, as relações entre o escritório central em São Paulo e os diretores eleitos por cada sucursal não caminhassem muito bem, os resultados do congresso foram pouco satisfatórios, levando o sucessor do cônsul Akamatsu, Seiichirō Nakajima, a criar, em 9 de agosto de 1929, a Associação de Pais e Mestres das Escolas Japonesas de São Paulo (Associação de Pais e Mestres, daqui em diante).

Além das atividades já realizadas durante o congresso, a Associação de Pais e Mestres também assumiu a administração de um alojamento para estudantes e ficou sendo responsável pela distribuição do dinheiro oferecido pelo governo japonês para a construção de novas escolas e pagamento dos educadores (35 mil ienes por ano).

Em março de 1936, Associação de Pais e Mestres mudou seu nome para Associação para Difusão do Ensino entre os Japoneses do Brasil, sendo rebatizada como Associação para Difusão do Conhecimento entre os Japoneses do Brasil em outubro do ano seguinte.