Capítulo 5 - A ascensão do nacionalismo e os movimentos anti-japoneses. (2)

Panorama geral da comunidade nipo-brasileira durante a Guerra do Pacífico.

As idéias de reemigração para a Ásia.

Depois que o exército japonês invadiu a ilha de Hainan, em fevereiro de 1939, idéias sobre a imigração para Hainan começaram a fervilhar subitamente. Essa corrente pregava que, utilizando a experiência adquirida no ultramar, os imigrantes tornar-se-iam líderes caso resolvessem deixar o Brasil, onde a vida tornava-se cada vez mais difícil em decorrência do fortalecimento dos movimentos anti-japoneses, e reemigrar para as áreas recém-invadidas pelo exército japonês. Mais tarde, passou-se a falar sobre reemigrar para a Manchúria ou para o Sudeste Asiático, dando origem a uma verdadeira febre do retorno ao país natal. Consta que, em 1938, 85% dos japoneses que se encontravam sob a jurisdição do consulado em Bauru desejavam retornar para o Japão (cf. Shungorō Wako, Os japoneses na região de Bauru [Bauru kannai no hōjin]) e, em 1939, o número de pessoas que retornavam (2.011 emigrantes) chegou a superar o número de pessoas que entravam (1.546 novos imigrantes).

A interdição dos jornais de língua japonesa.

Com a guerra assumindo proporções globais, o ambiente que cercava os japoneses foi-se tornando cada vez mais opressor. A partir de 1939, tornou-se obrigatório o cadastramento de estrangeiros e, em agosto de 1941, foi proibida a circulação de jornais em língua japonesa. A quantidade de informação acessível aos imigrantes que não conseguissem ler em português tornou-se mínima.

Em 13 de agosto de 1941, chegou ao porto de Santos o último navio trazendo imigrantes japoneses para o Brasil — o Buenos Aires-maru.

A Guerra do Pacífico e o fim das relações diplomáticas Brasil-Japão.

Em 9 de dezembro de 1941, logo após o início dos confrontos no Pacífico, o presidente Getúlio Vargas declarou: “diante do ataque proferido pelo Japão contra o continente americano, o Brasil manifesta aos Estados Unidos a sua solidariedade em nome da segurança de todo o continente”. Desde então, mesmo os jornais que simpatizavam com o Eixo posicionaram-se contra o Japão. Foram feitas muitas declarações de teor demagógico contrárias ao Japão e, por fim, a opinião pública terminou voltando-se contra os japoneses.

Em 28 de janeiro de 1942, o Brasil anunciou o fim das relações diplomáticas com as nações do Eixo. O consulado-geral do Japão no Brasil foi fechado, e o contato com os nacionais japoneses que permaneceram no país, proibido. Desde então, os interesses dos japoneses passaram a ser representados no país pelo consulado espanhol e, depois da entrada da Espanha na guerra, pelo consulado da Suécia.

Liberdade controlada para os súditos do Eixo.

Nesse ínterim, a Secretaria de Segurança do estado de São Paulo proibiu aos “súditos do Eixo” a distribuição de material escrito em seus idiomas nativos, assim como a execução de hinos nacionais e a conversação em suas línguas de origem em público e a participação em discussões sobre assuntos internacionais. Também foram proibidas as reuniões nas residências de particulares e o deslocamento, antes livre, passou a ser controlado por lei. As detenções de japoneses, feitas após denúncias sem fundamento de espionagem e de violação das restrições mencionadas acima, foram-se seguindo umas após as outras.

Em 11 de março, foi promulgado o decreto-lei de n.º 1.466, que previa o congelamento de todos os bens pertencentes aos “súditos do Eixo”. Com isso, os nacionais desses países eram forçados a depositar uma parte do seu dinheiro/crédito nos bancos, seus bens eram confiscados e os mesmos eram proibidos de adquirir novos bens, sob o pretexto de compensar os danos provocados pelos países do Eixo.

Em 3 de julho, os membros do corpo diplomático japonês deixaram o país a bordo de um navio mercante. Aos imigrantes, restava sentirem-se tratados como um povo indesejado, abandonados às moscas pelos próprios compatriotas.

Confinamento e evacuação forçada.

Em 18 de agosto, um navio de passageiros brasileiro foi afundado por um submarino alemão em Belém do Pará, deixando muitos mortos. Assustados diante do fato, muitos brasileiros hostilizaram indivíduos associados ao Eixo, fossem eles alemães, japoneses ou italianos. Os japoneses que residiam em Belém foram entregues às autoridades e mantidos sob custódia na hospedaria dos imigrantes somente “com as roupas do corpo”. Como já foi dito anteriormente, a Colônia Tomé-Açu (antiga Colônia Acará) serviu de campo de concentração para os imigrantes do Eixo na região Norte, sendo enviados para lá todos os japoneses que habitavam no curso superior do rio Amazonas.

Em 6 de setembro, foi expedida uma ordem de evacuação para todos os japoneses que residiam, em grande número, nos arredores da rua Conde de Sarzedas (a “rua Conde”).

Em março de 1943, foi promulgada a lei que impedia os “súditos do Eixo” de viajarem pelo interior do país sem a apresentação de salvo-conduto.

Em 8 de julho, submarinos alemães afundaram cinco navios brasileiros e americanos no litoral paulista. No mesmo dia, todos os cidadãos do Eixo — incluindo os japoneses — receberam ordens para deixar a cidade portuária de Santos dentro de 24 horas, sob o pretexto de ação preventiva contra espionagem. Os imigrantes ficaram alojados temporariamente na Hospedaria dos Imigrantes.

Embora expulsões como essas acontecessem, nunca se chegou a enviar, como foi feito no Peru, os imigrantes para os campos de concentração de japoneses nos Estados Unidos. Esse tipo de controle exercido sobre os imigrantes dos países do Eixo foi relaxado após a capitulação da Alemanha, em 7 de maio de 1945, e durou até o final da guerra.

Ataques às plantações de menta e às criações de bicho-da-seda.

Durante a guerra, agricultores nikkeis que cultivavam menta ou criavam bichos-da-seda chegaram a ser atacados por outros nikkeis durante os anos de guerra. Antes da eclosão da guerra, o Japão fornecia menta e seda para os Estados Unidos, mas estes produtos pararam de ser comercializados por ocasião do conflito, sendo comprados do Brasil daí em diante. Por conta disso, houve um aumento súbito nos preços de ambos os produtos, beneficiando economicamente os nikkeis que os cultivavam. Como a menta fosse usada na fabricação de explosivos e a seda na confecção de pára-quedas, discursos que consideravam a prática uma “contribuição à causa inimiga” começaram a espoucar entre os japoneses, levando grupos que se denominavam “Liga da Juventude Patriota” e “Grupo de Castigo Celestial” a depredarem galpões onde era feito o refinamento da menta e criadouros de bicho-da-seda no interior de São Paulo.

A fim de pôr termo a estas “práticas anti-patrióticas” e às “manufaturas que beneficiavam os inimigos”, o militar aposentado Junji Kikkawa criou, em fevereiro de 1944, a Kōdōsha, que mudou seu nome para Shindō Renmei em maio de 1945.