Capítulo 7 - Da reunificação da comunidade nipo-brasileira aos dias de hoje. (2)

Os órgãos responsáveis pela emigração no período pós-guerra.

A Federação das Associações Japonesas no Ultramar e o desenvolvimento da emigração.

Acompanhando a reabertura da emigração, foram criados órgãos relativos à emigração pelo governo japonês e que tinham como propósito fazer o recrutamento, a seleção e a remessa dos candidatos à emigração. Em janeiro de 1954, a Federação das Associações Japonesas no Ultramar (“Kaikyōren”) foi criada como um órgão extra-departamental do Ministério das Relações Exteriores. As seções de emigração de cada província ou as associações de emigração das províncias eram responsáveis pelo recrutamento e pela seleção dos candidatos, enquanto que a Kaikyōren assumia a responsabilidade pela remessa e pelo trato dos imigrantes após a chegada ao país de destino. Em 1955, Kaikyōren assumiu a responsabilidade pelos imigrantes “Tsuji” e pelos imigrantes “Matsubara”.

A JAMIC e a JEMIS.

A Promotora da Emigração para o Ultramar S/A foi criada em 27 de setembro de 1955 (Lei N.º 139 de 5 de agosto de 1955) com o objetivo de adquirir terras no exterior e construir uma colônia, utilizando o empréstimo concedido por um banco norte-americano, e fazer a partilha das terras entre imigrantes colonos por conta própria. O órgão responsável pela construção das colônias e pela liderança na administração das propriedades ficou conhecido como JAMIC (Colonização e Imigração Japonesa Ltd.ª) e órgão responsável pelos empréstimos feitos aos imigrantes ficou conhecido como JEMIS (Empréstimos e Investimentos Ltd.ª).

As colônias do período pós-guerra.

Entre as colônias sob a administração direta da JAMIC, tem-se: Tomé-Açu II (inaugurada em 1963, no Pará), Várzea Alegre (inaugurada em 1959, no Mato Grosso do Sul), Funchal (inaugurada em 1961, no Rio de Janeiro. Foi criada para absorver os desempregados das mineradoras Bibai e Miike), Jacareí (inaugurada em 1961, em São Paulo) e Guatapará (inaugurada em 1962, também em São Paulo).

Dentre as colônias acima, a Colônia Várzea Alegre, que não havia sido suficientemente examinada, tinha o solo pouco fértil e os imigrantes que nela ingressaram foram submetidos a tempos difíceis, sendo elevado o número de japoneses que abandonaram a colônia.

Antes que as terras da Colônia Guatapará fossem compradas pela Confederação Nacional de Agricultura e Colonização (“Zentakuren”), subordinada ao Ministério da Agricultura, com o dinheiro oferecido por sete províncias distintas, o solo já havia sido submetido a um tratamento prévio, feito por técnicos japoneses. Se, por um lado, não houve problemas na parte financeira, por outro o melhoramento do solo não trouxe os resultados desejados.

A JAMIC também era responsável pelo trato dos imigrantes destinados às colônias onde predominava a agricultura independente construídas pelo governo federal ou pelos governos estaduais. A construção das colônias, o trato dos imigrantes, o financiamento das atividades agrícolas e a liderança eram responsabilidade do Brasil, que nem sempre cumpria com suas obrigações. Como resultado disso, muitos imigrantes sofreram e o número de indivíduos que abandonavam as lavouras era constante.

Grupo de Apoio à Emigração Ultramarina. Grupo de Apoio ao Intercâmbio Internacional.

Em 15 de julho de 1963, uniram-se a Federação das Associações Japonesas no Ultramar e a Entidade Promotora da Emigração para o Ultramar, dando origem ao Grupo de Apoio à Emigração Ultramarina (decreto-lei n.º 124 de 8 de julho de 1963). Essa mesma Entidade foi absorvida pelo Grupo de Apoio ao Intercâmbio Internacional em agosto de 1974, acompanhando a onda de fusões de pessoas jurídicas especiais do período.

Como, porém, diversos problemas jurídicos surgiram no Brasil por conta da fusão das duas entidades, a JAMIC e a JEMIS precisaram ser fechadas em 29 de setembro de 1981. O departamento responsável pelo controle de emigrantes da nova entidade sofreu um corte significativo no ano de 1994, desaparecendo completamente em outubro de 2003 em decorrência da transformação do Grupo de Apoio ao Intercâmbio Internacional numa pessoa jurídica autônoma.

As transformações ocorridas na comunidade nipo-brasileira.

Os nisseis e a sociedade brasileira.

O avanço dos nisseis na sociedade brasileira é digno de nota. Em 1969, Fábio Ryōji Yasuda foi eleito ministro da Indústria e do Comércio; Shigeaki Ueki, por sua vez, foi eleito ministro das Minas e Energia em 1974, e Seigō Tsuzuki tornou-se ministro da Saúde em 1989. Em 2007, Jun’ichi Saitō tornou-se comandante da Força Aérea Brasileira.

Os dekasséguis: trabalhadores nikkeis no Japão.

Nos anos 80, época em que a inflação superou a marca de 1000% ao ano, muitos brasileiros começaram a emigrar para os Estados Unidos, para Portugal e para a Itália em busca de novos empregos. O movimento dekasségui teve início em torno do ano de 1984, chegando a ocorrer um “boom” a partir da segunda metade de 1986.

Desde o início, os nisseis tiveram o direito de permanecer no Japão sem qualquer restrição, benefício que em junho de 1989 foi estendido também aos cônjuges de nisseis, a sanseis e aos seus cônjuges (considerados “imigrantes permanentes”) com a reforma da Lei de Imigração japonesa.

Isso feito, o número de dekasséguis sofreu um aumento súbito, fosse por conta da situação econômica vivida pelo Brasil ou fosse pelos salários mais altos oferecidos no Japão. O número de brasileiros registrados no arquipélago ultrapassou a marca de 300 mil indivíduos em 2005, superando os 260 mil imigrantes japoneses entrados no Brasil tanto no pré-guerra como no pós-guerra.

Verificou-se, mesmo entre os dekasséguis (ou seja, aqueles que emigravam motivados somente por novos empregos) uma alta no número de brasileiros que escolheu o Japão como moradia definitiva. Como conseqüência, a deficiência educacional envolvendo crianças dekasségui e os casos subseqüentes de delinqüência têm se tornado um importante problema social.

Cerca de um quinto dos nikkeis brasileiros (de um total estimado de 1,5 milhão) — especialmente os jovens e as pessoas de meia-idade, mais apropriados ao trabalho no Japão — estão no arquipélago, deixando um vácuo na comunidade nipo-brasileira.

  • Imagem «Jornal em português (publicado no Japão) destinado aos descendentes de japoneses que vivem no Japão»

O processo de assimilação dos nikkeis.

Estima-se que hoje existam cerca de 1 milhão e 500 mil nikkeis vivendo no Brasil. Isso não significa, no entanto, a existência de uma comunidade de 1,5 milhão de nikkeis que preservam a mentalidade de grupo e se ajudem mutuamente, como era o caso da “comunidade de japoneses radicados no exterior” do pré-guerra e da “colônia nikkei” do pós-guerra.

Diz-se que a colônia japonesa entrou em declínio depois das comemorações dos setenta anos da imigração, que teriam sido o seu auge. Graças aos esforços dos imigrantes e seus filhos que se estabeleceram definitivamente no Brasil, muitos nikkeis possuem alto grau de escolaridade e gozam de prestígio na sociedade brasileira.

Já não necessitam mais do apoio da colônia e, em conseqüência disso, não precisam mais viver fechados na colônia. A colônia é formada pelos imigrantes e por alguns nisseis, de modo que, junto com o envelhecimento dessa parte da população, virá inevitavelmente o fim da colônia.

Como que atestando o fim da colônia, organizações que atuavam como lideranças da colônia, como a Cooperativa Agrícola de Cotia, a Cooperativa Agrícola Sul-Brasil e o Banco América do Sul, simplesmente desapareceram.

No recenseamento de 1958, constatou-se que 3,5% dos nikkeis eram casados com cônjuge não-nikkei. Esse número subiu para 13,6% na pesquisa suplementar realizada em 1963 e, em 1988, os casamentos interétnicos já eram 45,9% do total. Muitos nisseis evitavam o casamento misto por conta da resistência dos pais, mas restrições como essa desapareceram na terceira e quarta geração, levando a um aumento no número de indivíduos mestiços (no levantamento feito em 1988, 42% dos sanseis e 62% dos yonseis já eram mestiços). Acredita-se que a ascendência japonesa já não poderá mais ser detectada a partir de características físicas dentro de pouco tempo.

O futuro da comunidade nikkei.

Na mesma medida em que os nikkeis foram deixando-se assimilar pela sociedade brasileira, os nikkeis, assim como os descendentes de italianos ou de alemães, deseja-se que preservem a cultura do seu país de origem, assim contribuindo para a sociedade brasileira. Há movimentos que defendem que, através da construção de instituições de ensino à moda japonesa, qualidades como o espírito de grupo, a solidariedade, a perseverança, a retidão de caráter, a confiabilidade e a diligência dos japoneses poderão ser transmitidos à sociedade brasileira. Já hoje cogita-se a construção de instituições semelhantes que incluam até curso superior.

Entre os indivíduos da terceira e das demais gerações, há pessoas que possuem grande interesse em anime, J-Pop, yosakoi sōran, wadaiko e outras manifestações trazidas pelos dekasseguis ou através da internet, e formam grupos com base nesses interesses em comum. Essa foi a forma encontrada por esses indivíduos para tomar consciência da sua condição de nikkeis.

  • Imagem «Jornal de língua japonesa informa sobre o fim da Cooperativa Agrícola de Cotia»

    • Ver imagem «Jornal de língua japonesa informa sobre o fim da Cooperativa Agrícola de Cotia»